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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Vou em mim como entre bosques,

Vou em mim como entre bosques,

Vou-me fazendo paisagem

Para me desconhecer.

Nos meus sonhos sinto aragem,

Nos meus desejos descer.

Passeio entre arvoredo

Nos meandros de quem sinto

Quando sinto sem sentir...

Vaga clareira de instinto,

Pinheiral todo a subir...

Sorriso que no regato

Através dos ramos curvos

O sol, espreitando, achou.

Fluir de água, com tons turvos,

Onde uma pedra adensou.

Grande alegria das mágoas

Quando o declive da encosta

Apressa o passo ou querer...

De que é que a minha alma gosta

Ser que eu tenho de saber.

Muita curva, muita coisa,

Todas com gentes de fora

Na alma que sinto assim.

Que paisagem quem se ignora!

Meu Deus, que é feito de mim?

4-8-1930

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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