Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Clarim! Os mortos!

Clarim! Os mortos!

Contra Miguel de Vasconcellos

Republicano!

Eis outra vez o estrangeiro

Em Portugal!

Grita, clarim! Ao Conde Andeiro!

Mas quando a hora do Limoeiro

E do punhal?

Clarim, contra quem deu à França

A pátria e a grei,

Grita com fogo de esperança,

Vozes que chamem

O Rei!

E ao abismo do futuro clama

Por quem enfim

Vier, régia lusitana chama!

Pelo Rei que a Esperança chama,

Grita, clarim!

O Rei, a Lei, dias melhores …

Não sejam mais, nem já mais vezes

Os marinheiros portugueses

Guarda Vermelha dos Traidores!

Hoje em que nada é português

Salvo a desgraça,

E em que um sopro maligno e soez

Por sobre as nossas almas passa;

Hoje em que manda quem serviu

Por condição,

E o próprio amor à Pátria é frio

Por Pátria ser um nome vão;

Hoje que, ruído o trono e a glória,

Só o Traidor

O louro e o ouro da vitória

Goza, vil como um vil actor;

Hoje uma voz que se levante

E diga, embora

Chore de ver, chorando cante,

Que vem nascendo além a Aurora,

Diga em palavras já tocadas

De outra Visão,

O Rei, e a Vinda das Espadas,

E o fim da Horda e da Traição.

28-12-1919

Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

 - 211.