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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Vou com um passo como de ir parar

Vou com um passo como de ir parar

        Pela rua vazia

Nem sinto como um mal ou mal-estar

        A vaga chuva fria...

Vou pela noite da indistinta rua

        Alheio a andar e a ser

E a chuva leve em minha face nua

        Orvalha de esquecer...

Sim, tudo esqueço. Pela noite sou

        Noite também

E vagaroso eu  [...] vou,

        Fantasma de magia.

No vácuo que se forma de eu ser eu

        E da noite ser triste

Meu ser existe sem que seja meu

        E anónimo persiste...

Qual é o instinto que fica esquecido

        Entre o passeio e a rua?

Vou sob a chuva, amargo e diluído

        E tenho a face nua.

14-2-1929

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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