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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

CAMPANHAS ANTI-MAÇÓNICAS

CAMPANHAS ANTI-MAÇÓNICAS

Se um maçon, espontânea ou delegadamente, vem a público defender a sua Ordem, encontra-se desde logo, desde o início, em situação de inferioridade dialéctica perante o adversário.

Em primeiro lugar as regras da sua Ordem inibem-no de citar textos maçónicos, a não ser livros públicos, ou de provocar a citação d'eles pela parte contrária, o que lhe tira até a capacidade de impor o onus probandi ao seu opositor.

Em segundo lugar, muitas das afirmações que faz, como não as pode fazer acompanhar de prova documental ou testemunhal, terão que resultar finalmente em «provas de palavra de honra», isto é, do ponto de vista lógico, nenhumas. E, na ordem dialéctica, o adversário tem o direito de duvidar da palavra de honra, ou de levar essas informações à conta de mentiras diplomáticas.

Em terceiro lugar, como a vida iniciática é uma vida e não uma doutrina — isto é, um estado de alma formado de emoções e intuições, que não de ideas ou de temas—, é impossível transmitir ao adversário uma ideia, uma noção, vaga que seja, do que é, como atmosfera, a Maçonaria, ou aliás qual[quer] outra Ordem ou Colégio de iniciação.

Em resumo, o maçon polemista não pode fazer saber ao adversário o que é a Maçonaria, e também lh'o não pode fazer sentir.

Antes sente um fenómeno análogo à fé, a qualquer fé. Tente um místico cristão fazer compreender a um ateu ou a um materialista o que vem a ser a fé em Cristo. Ora os rituais exigem que se tenha fé neles antes que se possa começar a compreendê-los. Suponha o leitor que expõe, no pormenor das suas divisões, o Ritual da Missa Romana a um maçon anticatólico, mas entendido na estrutura de rituais. Pode, quando muito, arrancar-lhe a concessão de que, como ritual, a Missa é bem-talhada. Não lhe arranca mais, porque o conteúdo, o sentimento, o tipo de simbolismo lhe são antipáticos.

1934?

Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

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