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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

[Carta a Ophélia Queiroz - 2 Out. 1929]

Bom dia, Bebé: gosta de mim exactamente? Não venho do Abel, mas devia ter vindo; e, em todo o caso o Bebé também tem influências no estilo do Abel. Tem influências a distância, mas ao colo (situação muito natural nos bebés) ainda tem mais. E o Abel tem aguardente doce, mas a boca do Bebé é doce e talvez um pouco ardente, mas assim está bem. Gosta de mim? Porquê? Sim?

Estou doido, e não posso escrever uma carta: sei apenas escrever asneiras. Se me pudesse dar um beijo, dava? Então porque não dá? Má. A verdade é que o dia de hoje se embrulhou de tal maneira, que mal tenho tempo de lhe escrever mal este pouco tempo. Vespa.

Tenho que ir a fugir para casa para jantar cerca das 8 e ir depois a casa daquele meu amigo onde costumo jantar aos sábados. Hoje, é ir lá um pouco à noite, depois do jantar. Fera.

E acabei, e pronto. Dá-me a boquinha para comer?

Ibis

(nome de uma ave do Egipto, que é essa mesma)

2/10/1929

2-10-1929

Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).

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