O homem é um produto da hereditariedade e do meio,
O homem é um produto da hereditariedade e do meio, como o é qualquer outro ente vivo. O factor hereditariedade manifesta‑se de duas maneiras: pela hereditariedade propriamente dita, pela qual o filho sai aos pais ou aos antepassados; e por o que se chama a variação, pela qual difere deles. Por mais parecido que um ente vivo seja com os seus antepassados, ou com qualquer deles, nunca é exactamente esse antepassado (não contando mesmo com a diferente influência do meio, se a houver, como há sempre na vida das sociedades). É a isto, pelo que ele nunca é exactamente qualquer antepassado, que se chama a variação. Quanto mais uma raça é superior, maior é a variação dentro dela, e, com o aperfeiçoamento da raça, maior a variação irá sendo, porque maior é a variação acumulada e transmitida por hereditariedade. Mas, se a chave do progresso está na variação, na mesma variação está a chave da decadência; pois que a força vital de desintegração, gerando a vida, gera por isso mesmo a morte. Foi por isso que o fisiologista francês chegou à sua definição célebre de vida: «a vida é a morte».
Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).
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