[Carta a Ophélia Queiroz - 30 Maio 1920]
Meu Bebé querido:
Imagina que, tanto por me ter levantado muito cedo ontem, como por estar realmente fatigado, acordei hoje às 11 horas. Fui para a Baixa só ao meio-dia e tal e ao meio-dia e meia hora é que passei na tua rua. Tive muita pena de te não ver, mas não me admirei, é claro, que não estivesses, já a essa hora à janela. Desculpa, sim, Bebé; não foi por culpa minha, mas do meu sono, que faltei à combinação. Naturalmente ver-te-ei amanhã, mas não sei se poderei ir até Belém; o mais provável é ir a Santos. Em todo o caso, o outro processo é preferível.
As condições em que estou escrevendo esta carta, aqui em minha casa, mas com meu primo a passear à roda de mim, não são muito boas. Por isso aproveito um momento em que ele não está aqui mesmo perto para te enviar muitos e muitos beijinhos.
Teu, sempre teu
Fernando
30/5/1920
Domingo
Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).
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