[Carta a Ophélia Queiroz - 4 Jun. 1920]
Lisboa, 4 de Junho de 1920
Meu Bebé Nininha:
O que é que te sucedeu aos nervos entre o princípio e o fim da tua cartinha? Começaste bem, e alegre; e acabaste triste.
Foi pensares na «escrava» perdida? Foi pensares no tal sonho, a meu respeito, com que pareces ter-te preocupado tanto? Não te mostres tão preocupada, Bebezinho, que o Nininho não gosta disso.
Amanhã, de Belém para Lisboa, contarás tudo ao Ibis, sim? E promete desde já (a ti mesma, que eu, infelizmente, não estarei presente quando receberes esta carta) ficares mais bem disposta.
Pode ser que na loja, onde foste, encontrassem a «escrava». Pergunta lá hoje, ou amanhã, se vieres à Baixa.
O Nininho faz-te nervoso? [ ... ] o nervoso, de que, apesar de tudo, o Nininho não é culpado? É nervoso de gostar , é de sentir amor pelo Nininho? Quem me dera que fosse!
Muitos beijos, muitos do teu, muito teu
Ibis
Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).
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