Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

AMIEL

AMIEL

Não, nem no sonho a perfeição sonhada

Existe, pois que é sonho. Ó Natureza,

Tão monotonamente renovada,

Que cura dás a esta tristeza?

O esquecimento temporário, a estrada

Por engano tomada,

O meditar na ponte e na incerteza...

Inúteis dias que consumo lentos

No esforço de pensar na acção,

Sozinho com meus frios pensamentos

Nem com uma esperança mão em mão.

É talvez nobre ao coração

Este vazio ser que anseia o mundo,

Este prolixo ser que anseia em vão,

Exânime é profundo.

Tanta grandeza que em si mesma é morta!

Tanta nobreza inútil de ânsia e dor!

Nem se ergue a mão para a fechada porta,

Nem o submisso olhar para o amor!

20-8-1925

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

 - 65.