São três os sentidos que colaboraram na formação das artes,
São três os sentidos que colaboraram na formação das artes, ou, pelo menos, das artes superiores: a vista, de onde se formou a pintura, a escultura, a arquitectura, o ouvido donde se formou a música; a (...)
Quando se traduz um poema, traduz-se a ideia e o objecto; a liberdade está nos pontos intermédios das frases, das imagens até. Por isso é intraduzível nas línguas modernas a poesia quantitativa dos gregos e dos romanos.
A arte verbal de dizer as coisas de maneira que o ritmo influa no sentido chama-se poesia.
Todos conhecem o «pensamento» trazido pela rima; e com o ritmo dá-se
o mesmo.
O que é pensado para se dizer, ou porque se está dizendo, em poesia não é pensado do mesmo modo que se onde está a poesia estivesse a prosa. O ritmo dentro do mesmo espírito tem outra marcha ou direcção.
Reescrevamos a Ilíada na forma de uma crónica medieval, e será uma boa crónica medieval, mais nada. Dispamos o Paraíso Perdido da música rítmica da [...] e será um monumento de fantasia teológica, tediento e fruste.
A preocupação do ritmo infiltrou-se no poema, na substância da mesma ideação, e o que é para ser pensado ritmicamente não é pensado como se fosse só pensado.
Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,
1994.
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