Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Ah, sempre no curso leve do tempo pesado

Ah, sempre no curso leve do tempo pesado

A mesma forma de viver!

O mesmo modo inútil de estar enganado

Por crer ou por descrer!

Sempre, na fuga ligeira da hora que morre,

A mesma desilusão

Do mesmo olhar lançado do alto da torre

Sobre o plaino vão!

Saudade, esperança — muda o nome, fica

Só a alma vã

Na pobreza de hoje a consciência de ser rica

Ontem ou amanhã.

Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante

Do tempo sem fim

O mesmo momento voltando improfícuo e distante

Do que quero em mim!

Sempre, ou no dia ou na noite, sempre — seja

Diverso — o mesmo olhar de desilusão

Lançado do alto da torre da ruína da igreja

Sobre o plaino vão!

1-1-1921

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

 - 29.