Fernando Pessoa
Cansa ser, sentir dói, pensar destrui.
Cansa ser, sentir dói, pensar destrui.
Alheia a nós, em nós e fora,
Rui a hora, e tudo nela rui.
Inutilmente a alma o chora.
De que serve? O que é que tem que servir?
Pálido esboço leve
Do sol de Inverno sobre meu leito a sorrir...
Vago sussurro breve.
Das pequenas vozes com que a manhã acorda,
Da fútil promessa do dia,
Morta ao nascer, na esperança longínqua e absurda
Em que a alma se fia.
1-1-1921
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).
- 31.