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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Ó curva do horizonte, quem te passa,

Ó curva do horizonte, quem te passa,

Passa da vista, vão de ser ou estar.

Seta, que o peito enorme me transpassa.

Não doas, que morrer é continuar.

Não vejo mais esse a quem quis. A taça,

De ouro, não se partiu. Caída ao mar

Sumiu-se, mas no fundo é a mesma graça

Oculta para nós, mas sem mudar.

Ó curva do horizonte, eu me aproximo,

Para quem deixo, um dia cessarei

Da vista do último no último cimo,

Mas para mim o mesmo eterno irei

Na curva, até que o tempo a espera

E aonde estive um dia voltarei.

13-8-1921

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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