A MORAL DA FORÇA [a]
A MORAL DA FORÇA
Cap. I
Toda a noção moral pressupõe e em si inextrinsecamente inclui 3 conceitos: (1) o conceito de valor, (2) o conceito de utilidade, (3) o conceito de autoridade.
O 1º tem em comum com a arte.
O 2º em comum com a ciência.
O 3º com a religião.
A noção de valor pertence apenas àquelas manifestações em que a perfeição é impossível — ante a moral.
Definindo, pois, temos que um sistema moral é a noção de valor que uma sociedade, para Ihe ser útil, impõe a todos que nela queiram viver. Temos aqui os três princípios — valor, utilidade e autoridade.
Ora há uma só coisa primordial que preencha essas condições — a força . A força vale (porque há graus nela — imperfeição indefinida); a força é útil , é a coisa essencialmente útil; e só a força pode, primordialmente, ter autoridade, porque é a única coisa que, por sua natureza, a pode impor.
A beleza tem valor, mas não tem autoridade — directa , pelo menos, não a tem.
A ciência é útil directamente, mas não tem directamente valor. A sua noção fundamental [...] exclui o valor. ( Importa não confundir valor e utilidade ) .
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Graus:
(1) A moral do poder (ou da força).
(2) A moral da inibição (a melhor desta é o estoicismo).
(3) A moral do ideal (inibição em vista de um ideal).
Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).
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