[Carta a Santa-Rita - 24 Out. 1915]
Meu caro Santa Rita:
Aí lhe mando cinco páginas de poemas meus. São (excepto o último, que é excessivamente simples e mal merece, na verdade, o nome de «poema sensacionista») tanto na índole da sua Revista quanto eu pude conseguir. É pena que eu não tenha mais poemas-intersecções, porque esses é que, verdadeiramente, tinham cabimento neste caso.
Naturalmente v. quererá mais poemas meus. Por isso não assinei as páginas que lhe mando. E diga-me se quer que tire o Plenilunio. Eu inclui-o para estabelecer uma transição para uns cinco sonetos que tencionava juntar, mas que, afinal, me ficaram em casa. «Estabelecer uma transição» não está bem. Seria melhor dizer «repousar o leitor», porque os cinco sonetos são de estranheza superior quase até à Hora Absurda.
Mando-lhe também o frontispício para os poemas do Sá-Carneiro. Num postal, que chegou hoje, é que ele m'o indica. E também, felizmente, me pede para lhe enviar mais dois poemas. Como não os tenho aqui, mas em casa, só poderei enviá-los amanhã. Desculpe-me estas várias demoras.
Todo seu
(a) Fernando Pessoa.
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
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