[Carta ao director do Jornal do Comércio - 14 Abr. 1928]
Lisboa, 13 de Abril de 1928.
Exmo. Senhor Director do Jornal do Comércio:
No artigo de Augusto da Costa, inserto hoje no Jornal do Comércio, e em uma honrosa transcrição, que nele se faz, do meu folheto recente O Interregno, encontra-se uma gralha, de uma só letra, que, por fazer sentido num sentido errado, peço a V. Exa. licença para apontar.
No final d'essa citação está impresso o seguinte: «Nem, no longo e triste curso das três dinastias filipinas — a dos Filipes, a dos Braganças, e a República — houve mais que a minguada e passiva estirpe dos Sebastianistas liberais que em algum modo mantivesse viva e amada a memória da alma de Portugal».
Não escrevi liberais: escrevi literais. E, como é de ver, com esta palavra literais entendi designar aqueles velhos Sebastianistas que tomavam à letra o Regresso profetizado de El-Rei D. Sebastião, Nosso Senhor; que enganadamente supunham pessoal e carnal esse Regresso. Implicitamente os opus àqueles outros Sebastianistas que, como Augusto da Costa e eu, esperamos e confiamos nesse Regresso no seu alto sentido simbólico, que é o verdadeiro.
De V. Exa., respeitosamente,
(Fernando Pessoa)
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
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