O neopaganismo português reconhece que as pátrias...
O neopaganismo português reconhece que as pátrias são apenas meios para um fim, que as transcende. Esse fim nem é a Religião, nem a Humanidade, mas a Civilização — isto é, o aumento constante de aquisições científicas, de possibilidades de emoção agradável, e de meios fáceis de acção; o acréscimo em suma, do conteúdo da inteligência, do conteúdo da sensibilidade, do conteúdo da vontade.
Sendo, porém, um meio para um fim no que respeita aos escóis, cuja missão é criar civilização, a Pátria é, porém, um fim directo para o povo. Para o povo não deve haver nada acima da Pátria. Todos devem trabalhar no sentido da civilização (e é porque as pátrias são a base da civilização que nunca se pode passar além da ideia de Pátria). Os escóis trabalham para criar civilização; o povo trabalha para criar condições de criação de civilização, isto é, para criar escóis, e os escóis criam-se pelo patriotismo dos não escóis. Uma nação produz homens de génio, criadores de civilização na razão directa da sua homogeneidade de integração psíquica.
As três condições de criação civilizacional são: a liberdade do indivíduo, a homogeneidade da pátria, e a dedicação a um princípio superior à Pátria. Importa supremamente que o povo tenha o amor da pátria e a consciência emotiva dela; que as classes médias tenham a máxima liberdade possível; e que as classes dirigentes tenham a noção nítida do seu papel.
Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,
1994.
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