1) Artes de agrado
1) Artes de agrado
2) Artes de aperfeiçoamento
[...]
Tornar o útil agradável, eis a base de artes de aperfeiçoar; porque tornar o útil agradável é aperfeiçoar o útil, tornando-o mais útil, fazendo-o servir em si o seu fim directo, que constitui a sua utilidade, plus [?] outro fim, indirecto, que é o de tornar essa utilidade duplamente útil.
A escala é da mais directa agradabilização do útil para a menos directa; da arquitectura, portanto, através da escultura para a pintura.
3) Artes de influenciar. São essencialmente as artes de civilização. O seu fim é transmitir civilização, passar de umas gerações para outras o resultado do trabalho psíquico de cada uma. As artes de influenciar são portanto: a) representativas de resultados civilizacionais, e não de tipos psíquicos (...) .
O ideal do artista influenciador é alto na proporção em que ele tem consciência do seu mister, na proporção em que tem consciência do seu papel de influenciador de gerações futuras, e da sua missão de quem deve deixar perenemente aumentado o património espiritual da humanidade.
Os poetas antigos tinham esta consciência; a decadência dela entre os modernos, substituída pela ânsia da popularidade imediata, apanágio finalista das artes inferiores, é um dos mais fortes sintomas da nossa degradação moral (espiritual) .
Artes de influenciar
a) o fim representativo: o artista procura, ao fazer a sua obra, deixar alguma coisa que represente o estado da sua época (?).
b) o fim valorizador: [o artista procura deixar] alguma coisa que dê valor à sua pátria (ou à humanidade).
c) o fim instrutivo: [o artista procura deixar] alguma coisa que perenemente mande nas almas.
Uma obra sobrevive em razão de
1) sua construção, porque, sendo a construção o sumo resultado da vontade e da inteligência, apoia-se nas duas faculdades cujos princípios são de todas as épocas, que sentem e querem da mesma maneira, embora sintam de diferentes modos;
2) a sua profundeza psicológica;
3) carácter abstracto e geral da emoção que emprega. A obra sóbria de emoção tende mais a sobreviver porque a emoção moderada é característica de todas as épocas, porque os de emoção moderada a apreciam naturalmente; e os de emoção irregular têm a sua média na emoção moderada. De mais a mais, as emoções excessivas variam de época para época; são, portanto, o que há de passageiro em cada uma. As emoções moderadas caracterizam todas; isto é, todas as aceitam, embora algumas, por o que têm de transitório, prefiram que se exagere.
A excessiva compaixão pela humanidade, por ex., caracteriza o romantismo. Fora do romantismo, essa emoção não existe. Mas a compaixão nobre pelas dores humanas é um sentimento humano de todas as épocas.
Páginas de Estética e de Teoria Literárias. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.
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