– Quem é aquele doido que prenderam…
–– Quem é aquele doido que prenderam porque anda a pregar a vinda de um Salvador?
— Não sei, senhora. É um homem que fala como quem não nos vê, e conversa apenas em cousas que estão atrás de nós quando atrás de nós não está gente nenhuma.
[SALOMÉ] – A noite é tão calma e tão puro o céu que não há tristeza que esteja fora de mim. Uma angústia como uma mão oprime-me. Há um desassossego sem esperança em todas as minhas emoções. Nesta hora morna e escura eu queria ser qualquer coisa que ninguém tivesse desejado ser. No teu país de que cousas é que se sonha?
Da beleza da vida nos outros países, sobretudo naqueles de que nunca ouvimos falar.
«Salomé». Ficção e Teatro. Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Europa-América, 1986
- 221.1ª publ. in Fernando Pessoa et le Drame Symboliste. Teresa Rita Lopes. Paris: F. C. Gulbenkian, 1977