Ao fundo do meu passado Salomé dança.
Ao fundo do meu passado Salomé dança.
As graças debruçam-se sobre o alvejar das suas espáduas.
São morenas e alvejam
Suas carícias são nervosas e rápidas, mas pelo sabor do (seu) contacto parecem demoradíssimas.
Os seus dedos sabem de cor o mistério das volúpias incompletas.
Secam oásis nos seus lábios cansados.
Apagam-se lâmpadas nos contornos dos seus arremedos.
Há um ruído de guizos longínquos em tudo o que ela não (...)
Lá fora o luar é de prata branda...
Enroscam-se as sombras sob a lua alta, e o vento sacode-as quando passam.
Calam-se os espaços entre árvore e árvore, entre bosque e bosque...
Há ilhas remotas na paisagem...
Ficção e Teatro. Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Europa-América, 1986
- 221.1ª publ. in Fernando Pessoa et le Drame Symboliste. Teresa Rita Lopes. Paris: F. C. Gulbenkian, 1977