Fernando Pessoa
II - Nem defini-la, nem achá-la, a ela —
II
Nem defini-la, nem achá-la, a ela —
A Beleza. No mundo não existe.
Ai de quem com a alma inda mais triste
Nos seres transitórios quer colhê-la!
Acanhe-se a alma porque não conquiste
Mais que o banal de cada coisa bela,
Ou saiba que ao ardor de querer havê-la
À Perfeição — só a desgraça assiste.
Só quem da vida bebeu todo o vinho,
Dum trago ou não, mas sendo até o fundo,
Sabe (mas sem remédio) o bom caminho;
Conhece o tédio extremo da desgraça,
Que olha estupidamente o nauseabundo
Cristal inútil da vazia taça.
27-02-1909
Obra Poética e em Prosa. Vol. I. Fernando Pessoa. (Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986.
- 154.«Em Busca da Beleza».