UM SISTEMA IDEALISTA
UM SISTEMA IDEALISTA
Uma coisa para existir deve ser ou finita ou infinita. Ora o mundo não é (provo aqui) nenhuma: o mundo não existe.
Para que uma coisa exista é preciso que seja susceptível de ser percebida e pensada; ora o mundo infinito não pode ser percebido; o mundo finito não pode ser pensado.
O mundo como todo, não existe. Mas o mundo existe, parece. Mas não existe como todo. Existe, pois, como parte. Não parte de um todo homogéneo; porque esse todo seria ele mundo, e, como já provámos, o mundo como todo não existe.
É forçoso, pois, que o mundo exista como parte de um todo de que ele não é materialmente parte. Ora isto é susceptível de ser percebido e pensado — e ser percebido e pensado são, como já dissemos, as características da realidade. É susceptível de ser pensado, como já provámos, chegando pelo pensamento a essa conclusão. É susceptível de ser percebido, pelos sentidos, porque estes não o buscam como infinito, nem como finito.
O mundo em si é, pois, limitado por uma limitação sui generis. É parte, não homogenicamente, não materialmente, de uma coisa qualquer. Que é essa? É o finito ou o infinito. Não é o finito porque o mundo o contém em si. É, pois, o infinito. É o mundo, pois, parte não integrante de um infinito.
Não é eterno nem deixa de o ser. Aqui não há questão de percepção, é único critério o pensamento. Ora não podemos pensar o mundo eterno. Nem o podemos pensar começando. Portanto, o mundo, como todo, não é eterno nem deixa de o ser.
É a série outra vez.
Mau ou bom?
Participa das ideias como queria Platão? É isto realmente a participação?
Mas, esse infinito de que o mundo é parte não integrante, não é um ser. É, pois, uma ideia. Daqui a participação.
Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).
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