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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Se tudo o que há é mentira,

Se tudo o que há é mentira,

É mentira tudo o que há.

De nada nada se tira,

A nada nada se dá.

Se tanto faz que eu suponha

Uma coisa ou não com fé,

Suponho-a se ela é risonha,

Se não é, suponho que é.

Que o grande jeito da vida

É pôr a vida com jeito.

Fana a rosa não colhida

Como a rosa posta ao peito.

Mais vale é o mais valer,

Que o resto ortigas o cobrem

E só se cumpra o dever

Para que as palavras sobrem.

14-10-1930

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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