Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Parece às vezes que desperto

Parece às vezes que desperto

E me pergunto o que vivi;

Fui claro, fui real, é certo,

Mas como é que cheguei aqui?

A bebedeira às vezes dá

Uma assombrosa lucidez

Em que como outro a gente está.

Estive ébrio sem beber talvez.

E de aí, se pensar, o mundo

Não será feito só de gente

No fundo cheia de este fundo

De existir clara e ebriamente?

Entendo, como um carrossel,

Giro em meu torno sem me achar...

(Vou escrever isto num papel

Para ninguém me acreditar...)

11-2-1931

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

 - 27.