Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

[1] – … então a minha mulher pegou na carta…

— ... então a minha mulher pegou na carta e pô-la em cima de uma mesa pequena que há no fim da sala, chamou a criada, indicou-lhe a carta e deu-lhe ordens, dizendo-lhe até que, se viesse qualquer outra pessoa, que não se fosse embora sabendo que nós não estávamos, e se fosse preciso entrar para a sala, ela tirasse dali discretamente a carta e depois em mão a desse ao Simas, quando ele chegasse. Depois fechámos a porta à chave...

»... Minha mulher pôs a carta em cima da mesinha, encostada a uma jarra, e depois veio para porta da sala onde eu estava e chamou a criada. Apontou-lhe a carta no fim da sala e deu-lhe as ordens. Todos nós, eu, a minha mulher e a criada, vimos a carta lá. Depois fechou-se a porta à chave sem ninguém mais entrar ou dar um passo para dentro dela.

— E a chave?

— Ficou na porta. Demos a volta à chave só para evitar que o pequenito entrasse. Ele tem idade para abrir a porta pelo puxador, mas não tem habilidade, nem sequer altura para dar volta à chave.

O Chefe Guedes concentrou-se sobre o engenheiro.

— Bem, e depois?

— Depois a minha mulher foi pôr o chapéu e eu fui beber um copo de água à casa de jantar. A criada foi para a cozinha. Saímos imediatamente.

Ficção e Teatro. Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Europa-América, 1986

 - 119.

«A Carta Mágica». 1ª publ. in A Novela Policial-Dedutiva em Fernando Pessoa . Fernando Luso Soares. Lisboa: Diabril, 1976