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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Tão pouco heráldica a vida!

Tão pouco heráldica a vida!

Tão sem tronos e ouropéis quotidianos!

Tão de si própria oca, tão do sentir-se despida

Afogai-me, ó ruído da acção, no som dos vossos oceanos!

Sede abençoados, (...) carros, comboios e trens

Respirar regular de fábricas, motores trementes a atroar

Com vossa crónica (...)

Sede abençoados, vós ocultais-me a mim...

Vós ocultais o silêncio real e inteiro da Hora

Vós despis de seu murmúrio o mistério

Aquele que dentro de mim quase grita, quase, quase chora

Dorme em vosso embalar férreo,

Levai-me para longe de eu saber que vida é que sinto

Enchei de banal e de material o meu ouvido vosso

A vida que eu vivo — ó (...) - é a vida que me minto

Só tenho aquilo que (...); só quero o que ter não posso.

1914

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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