Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Álvaro de Campos

CARNAVAL [b]

CARNAVAL

3

(...) não tenho compartimentos estanques

Para os meus sentimentos e emoções...

Vidas, realmente se misturam

O que era cérebro acaba sentimento

Minha unidade morre ao relento

(...)

Quando quero pensar, sinto, não sei

Se me sinto quem sou e queria.

Psique de fora da psicologia,

Vivo fora da (...) e da lei

Amorfo anexo ao mundo exterior

Reproduzindo tudo o que nele há

Sem que em meu ser qualquer ser meu me vá

Compensar pessoalmente a minha dor.

Não: sempre as dores doutra gente que é eu

(Sempre alegrias de várias pessoas)

[...]

Sempre de um centro diferente e meu

Carnaval de (...)

Bebendo p'ra se sentir alegres e outros

Outros bebendo como eles (...) se sentem

Tendo de ser alegres (...)

Dêem-me um sentir que cansa e é bom e cessa

Prendam-me para que eu não faça mais versos

Façam [ad finem?] com que o sentir cesse

Proíbam-me pensar com a cabeça.

Dói-me a vida em todos os meus poros

Estala-me na cabeça o coração,

(...)

Para que escrevo? É uma pura perda.

(...)

Depois. [...]

Se escrevo o que sinto [...]. Bom. Merda.

Pronto. Acabou-se. Quebro a pena e a tinta

Entorno-a aqui só para a entornar...

Não haver vida que se possa DAR!

Não haver alma com que não se sinta!

Não haver como essa alma consertar-me

Com cordéis ou arames que se aguentem

Com ferros e madeiras que não mentem

E me dêem unidade no aguentar-me!

Não haver (...)

Não haver, não [...]

Não haver. Não Haver!

s.d.

“Carnaval”. Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

 - 7c.