Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Ó naus felizes, que do mar vago

Ó naus felizes, que do mar vago

Volveis enfim ao silêncio do porto

Depois de tanto nocturno mal —

Meu coração é um morto lago,

E à margem triste do lago morto

Sonha um castelo medieval...

E nesse, onde sonha, castelo triste,

Nem sabe saber a, de mãos formosas

Sem gosto ou cor, triste castelã

Que um porto além rumoroso existe,

Donde as naus negras e silenciosas

Se partem quando é no mar amanhã...

Nem sequer sabe que há o, onde sonha,

Castelo triste... Seu espírito monge

Para nada externo é perto e real...

E enquanto ela assim se esquece, tristonha,

Regressam, velas no mar ao longe,

As naus ao porto medieval...

s. d.

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

 - 206.