Fernando Pessoa
O SOBA DE BIKÁ — TRAJÉDIA
O SOBA DE BIKÁ — TRAJÉDIA
O soba de Biká, maravilhoso gajo,
Constantemente usava um admirável trajo
Que era feito de pele e de coisa nenhuma.
Havia uma harmonia entre ele e o trajo; em suma,
O soba de Biká, ou de noite ou de dia,
Era sempre da cor do trajo que vestia.
Mas o soba, coitado!, um dia em sua casa,
Sentou-se por descuido em cima de uma brasa,
E, em vez de gritar «Ai, minhas calças!», «Uh!»,
Gritou ele, esquecendo o trajo, «ai o meu cu!»
s.d.
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
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