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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

No ouro sem fim da tarde morta,

No ouro sem fim da tarde morta,

Na poeira de ouro sem lugar

Da tarde que me passa à porta

Para não parar,

No silêncio dourado ainda

Dos arvoredos verde fim,

Recordo. Eras antiga e linda

E estás em mim...

Tua memória há sem que houvesses,

Teu gesto, sem que fosses alguém,

Como uma brisa me estremeces

E eu choro um bem...

Perdi-te. Não te tive. A hora

É suave para a minha dor.

Deixa meu ser que rememora

Sentir o amor,

Ainda que amar seja um receio,

Uma lembrança falsa e vã,

E a noite deste vago anseio

Não tenha manhã.

s. d.

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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