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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

[Carta ao Banco Angola e Metrópole - 20 Out. 1925]

Rua da Prata, 71, l.º, (Telef. C. 1056).

Lisboa, 27 de Novembro de 1925.

Exmos. Srs. Directores do Banco Angola e Metrópole,

Lisboa

Exmos. Senhores:

A expansão comercial de qualquer país, e, no caso do nosso, também e sobretudo das colónias, necessita do apoio de uma informação e publicidade seguras, e o primeiro elemento permanente d’essas é a catalogação, para divulgação geral, dos comerciantes e industriais do país — isto é, aquilo a que se chama um Anuário ou Indicador d’esses comerciantes e industriais.

Duas, porém, são as dificuldades iniciais d’este género basilar de publicidade e informação; e acresce uma terceira no caso de Portugal europeu e ultramarino.

(1) Um anuário comercial é uma publicação que, ou há-de ser completa, e então é necessariamente volumosa, mesmo para um país pequeno; ou timbra em não ser volumosa, e então tem que ser incompleta. (2) Um anuário comercial ou há-de ser feito na língua própria do país, e nesse caso a sua consulta é limitada aos que compreendem essa língua — o que, no nosso caso, e em relação ao mundo inteiro civilizado, é muito pouca gente; ou há-de ser feito em qualquer língua estranha, largamente falada, mas então perde, não só e ainda o mercado dos países de outras línguas, mas o próprio mercado nacional, que é sempre um bom comprador. Acresce, no caso de Portugal que (3) há um «Anuário Comercial», assim denominado, que, eivado necessariamente dos dois defeitos anteriormente expostos, criou contudo no mercado nacional, por não ter concorrente, uma tradição de venda — progressivamente restringida, aliás, pela extrema elevação do seu preço.

O problema da publicidade europeia e colonial portuguesa por meio de anuário ou indicador (como, aliás, o de qualquer publicidade análoga estrangeira) seria, pois, praticamente irresolúvel se não existisse o pedido de patente de invenção n.º 14345, que depositei em 27 de Outubro findo na Repartição da Propriedade Industrial. Esta invenção resolve, de um só golpe, todas as dificuldades. Nem no estrangeiro, nem muito menos aqui, apareceu ainda solução tão completa, e ao mesmo tempo tão simples, para este problema da catalogação e da publicidade. A minha invenção não tem precedentes em país nenhum.

O processo de confecção de um anuário ou indicador, em que essa patente consiste, permite:

(1) Condensar, por exemplo, todo o conteúdo dos dois grandes volumes do «Anuário Comercial de Portugal» — ainda desenvolvendo e expandindo esse conteúdo, que é, sobretudo na parte colonial, bastante deficiente — em um espaço inferior a um só d’esses tomos. Assim se elimina a dificuldade do «grande volume» da obra, e esta se torna, ao mesmo tempo, mais barata e mais fácil de manusear.

(2) Fazer um anuário extralinguístico, isto é, consultável em todas as línguas, bastando, para o tornar consultável em qualquer, um pequeno número de páginas, ou um pequeno folheto acessório de um máximo de 16 páginas. Assim se elimina a dificuldade linguística, limitação fatal da expansão do livro, isto é, da sua capacidade de venda e de propaganda.

(3) Dada a grande diminuição de volume, e a consequente baixa de custo e preço; dada a consultabilidade da obra em qualquer língua, e a consequente capacidade de expansão, que a baixa de preço acentua e facilita; tornar inteiramente nula e sem consequência nenhuma a concorrência — que em outras circunstâncias, dada a sua venda tradicional, seria bastante forte — do «Anuário Comercial» presente, reduzido, desde a publicação d’este, não só a uma velharia, mas a uma velharia cara.

São duas as razões porque apresento este assunto à consideração de V. Exas., de preferência à de qualquer outra entidade susceptível de por ele se interessar. — A primeira é que V. Exas. têm revelado, tanto quanto me tem sido possível observar, um interesse desusado pelos processos e empresas propriamente de expansão nacional; e, se me não engano em supor que seguem esse critério, que aliás a ciência económica presente abona, não deve ser-lhes indiferente um processo inteiramente novo e prático da organização d’aquilo que é fundamental na publicidade comercial de um país, não precisando eu chamar a vossa atenção para o destaque que a publicidade assume na técnica da expansão comercial moderna. — A segunda é que V. Exas. têm mostrado um interesse especial pela expansão colonial portuguesa; e o meu processo permitiria englobar em pequeníssimo espaço, junto com a catalogação dos comerciantes e industriais da Metrópole, a dos de todas as colónias portuguesas, o que o «Anuário Comercial» presente não faz para não alongar o seu já longo número de páginas, e por não ter, por sua mesma natureza, saída nenhuma no estrangeiro.

A publicação de um anuário pelo meu sistema é negócio que não exige o emprego de um capital extraordinário, e que pode dar, em relação a esse capital, um lucro, se não prodigioso, pelo menos absolutamente compensador. Como tenho perfeitamente determinados todos os métodos de confecção do Anuário — não só os que constituem propriamente a patente, mas os que são meios para chegar a esses — proponho a V. Exas., com o ceder-lhes a patente, assumir a direcção geral da obra.

Junto, para fácil e inteira elucidação de V. Exas., — de preferência à copia da «descrição» entregue com o pedido de patente, e que é abstracta de mais -, uma «exemplificação» do que é o Anuário Sintético que inventei, precedido da simples nota do nome oficial do invento e da reivindicação respectiva. À primeira vista pode parecer complexo o assunto; pouco, porém, é preciso ler para logo se verificar a sua extrema simplicidade.

Aguardo com interesse a resposta de V. Exas., de quem me subscrevo, com a maior consideração,

Mto. Atto. e Venr.

Anexo de 5 pág.

27-11-1925

Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

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