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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Vai redonda e alta

Vai redonda e alta

A lua. Que dor

É em mim um amor?...

Não sei que me falta...

 

Não sei o que quero.

Nem posso sonhá-lo...

Como o luar é ralo

No chão vago e austero!...

 

Ponho-me a sorrir

P'ra a ideia de mim...

E tão triste, assim

Como quem está a ouvir

 

Uma voz que o chama

Mas não sabe d'onde

(Voz que em si se esconde)

E Só a ela ama...

 

E tudo isto é o luar

E a minha dor

Tornado exterior

Ao meu meditar...

 

Que desassossego!

Que inquieta ilusão!

E esta sensação

Oca, de ser cego

 

No meu pensamento,

Na rainha vontade...

Ah, a suavidade

Do luar sem tormento

 

Batendo na alma

De quem só sentisse

O luar, e existisse

Só p'ra a sua calma.

4-11-1914

Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues.

(Introdução de Joel Serrão.)Lisboa: Confluência, 1944 (3.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1985).

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