Fernando Pessoa
Oiço, como se o cheiro
Oiço, como se o cheiro
De flores me acordasse...
É música — um canteiro
De influência e disfarce.
Impalpável lembrança,
Sorriso de ninguém,
Com aquela esperança
Que nem esperança tem...
Que importa, se sentir
É não se conhecer?
Oiço, e sinto sorrir
O que em mim nada quer.
21-8-1933
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
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