Fernando Pessoa
Tenho escrito muitos versos,
Tenho escrito muitos versos,
Muitas cousas a rimar,
Dadas em ritmos diversos
Ao mundo e ao seu olvidar.
Nada sou, ou fui de tudo.
Quanto escrevi ou pensei
É como o filho de um mudo —
«Amanhã eu te direi».
E isto só por gesto e esgar,
Feito de nadas em dedos
Como uma luz ao passar
Por onde havia arvoredos.
12-4-1934
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).
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