Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Mundo confranges-me por existir.

Mundo confranges-me por existir.

Tenho-te horror porque te sinto ser

E compreendo que te sinto ser

Até às fezes da compreensão.

Bebi a taça (...) do pensamento

Até ao fim; reconheci-a pois

Vazia e achei horror. Mas eu bebi-a.

Raciocinei até achar verdade,

Achei-a e não a entendo. Já se esvai

Neste desejo de compreensão

Inatendido inalteravelmente,

Neste lidar com seres e absolutos

O que em mim por sentir me liga à vida

E pelo pensamento me faz homem.

Já não penso como antes, nem que existo

Nem que existisse. E neste orgulho certo

Fechado mais ainda e alheado

Me vou do limitado e relativo

Mundo em que arrasto a cruz do meu pensar.

Com dolorosas incompreensões

E com compreensões mais dolorosas

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

 - 166.

1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.77).