Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

I - ABISMO

I

ABISMO

Olho o Tejo, e de tal arte

Que me esquece olhar olhando,

E súbito isto me bate

De encontro ao devaneando —

O que é ser-rio, e correr?

O que é está-lo eu a ver?

Sinto de repente pouco,

Vácuo, o momento, o lugar. Tudo de repente é oco —

Mesmo o meu estar a pensar.

Tudo — eu e o mundo em redor —

Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser, ficar,

E do pensar se me some.

Fico sem poder ligar

Ser, ideia, alma de nome

A rnim, à terra e aos céus..

E súbito encontro Deus.

s.d.

«ALÉM-DEUS». Orpheu, nº 3. (Lisboa: 1916) (Preparação do texto, introdução e cronologia de Arnaldo Saraiva.) Lisboa: Ática, 1984.

 - 36.

Poema nº 3 de Orpheu, que não chegou a ser publicado.