«Cancioneiro» é, como a mesma palavra o diz, uma colectânea...
«Cancioneiro» é, como a mesma palavra o diz, uma colectânea (colecção) de Canções. Canção é, propriamente, todo aquele poema que contém emoção bastante para que pareça ser feito para se cantar, isto é, para nele existir naturalmente o auxílio, ainda que implícito, da música.
Pode ser narrativo, como quando é balada; (...) o que não pode ser, por um lado, é longo, pois o canto não pode durar muito, e o libreto de uma ópera não é mais que uma colecção de canções; por outro lado, é epigramático, ou vazado em moldes semelhantes aos do epigrama, pois o epigrama é o poema destituído de emoção, excepto a mínima inexcluível de tudo quanto é humano, e os moldes da poesia de estilo epigramático excluem a musicalidade. Por isso se não pode chamar canção a um soneto, que é um epigrama de catorze versos, dispostos em duas quadras e dois tercetos, como no soneto regular, ou em três quadras e um dístico , como no soneto Shakespeariano.
[Dissemos que devemos chamar canção um poema] que contém emoção bastante para parecer que nele se está cantando. A canção exclui, portanto, tudo quanto se não pode cantar. Não se pode cantar o que é longo; não se pode cantar o que é duro; não se pode cantar o que é rígido e formal. Por isso a canção exclui o poema longo, exclui o poema satírico, exclui o epigrama e todo poema que se serve de uma forma rígida, como, por exemplo, o soneto. Salvas essas limitações, todo poema é uma canção.
Não pode chamar-se canção o que exclui o elemento musical. Por isso não pode chamar-se canção a um poema em verso irregular ou livre, nem a um poema onde não haja rima.
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1996.
- 427.Prefácio para o «Cancioneiro»


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