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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

Felizes, cujos corpos sob as árvores

Felizes, cujos corpos sob as árvores

Jazem na húmida terra,

Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem

Das doenças da lua.

Verta Éolo a caverna inteira sobre

O orbe esfarrapado,

Lance Neptuno, em cheias mãos, ao alto

As ondas estoirando.

Tudo lhe é nada, e o próprio pegureiro

Que passa, finda a tarde,

Sob a árvore onde jaz quem foi a sombra

Imperfeita de um deus,

Não sabe que os seus passos vão cobrindo

O que podia ser,

Se a vida fosse sempre a vida, a glória

De uma beleza eterna.

1-6-1916

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

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