[Sobre DESAPARECIDO, de Carlos Queiroz]
[Sobre DESAPARECIDO, de Carlos Queiroz]
A beleza do livro começa pelo livro. A edição é lindíssima. A beleza do livro continua pelo livro fora: os poemas são admiráveis.
Não se pode dizer deste livro o que é vulgar dizer-se, elogiosamente, de um primeiro livro, sobretudo de um jovem: — que é uma bela promessa. O livro de Carlos Queiroz não é uma promessa, porque é uma realização. Cumpriu, sem ter prometido, sem ter tido que prometer.
Assim se deveria fazer sempre, ou quase sempre. Pertence ao mais íntimo da probidade literária e artística o não se apresentar ao público sem ter plena consciência de que na obra apresentada está tudo quanto em nós haja de forte. Não escrevia Milton um soneto sem que o fizesse como se desse soneto dependesse toda a sua fama futura.
E que prazer o de se poder escrever isto sem que a amizade que tenho pelo poeta, que é muita, uma só palavra me dite; sem o que o gosto de incitar quem é jovem, e tenho esse gosto, me faça sublinhar uma só frase; de poder escrever isto sem mais entendimentos que com a justiça, sem mais combinações que com a verdade.
Textos de Crítica e de Intervenção . Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1980.
- 223.1ª publ. in Revista de Portugal, nº 2. Coimbra: Jan. 1938.