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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

INTRODUÇÃO [ O Sentido do Sidonismo ]

O Sentido do Sidonismo

Introdução

É de boa disciplina do exposto, e de justo critério com que deve tratar-se um problema, abrir a sua discussão com uma tripla determinação, pela qual quem lerá fique esclarecido sobre o que se vai versar, e quanto ao que se não vai versar. Tal exposição liminar é como o cartaz da peça, ou o argumento dela — um guia para a sua interpretação.

A tripla determinação a que aludo é a de: no problema [...] de que vai tratar-se?; como se limita, e a que se limita, em política [?], que pontos inclui, o que pontos exclui?; que método se vai seguir no seu tratamento, e porquê esse método, e não outro? Tal divisão do assunto compete que se faça para qualquer problema.

Proponho-me examinar não só o espírito político da República Port., a que se chama vulgarmente o De zembrismo, como mais latamente, o espírito especial que conteve, em que, pois que lhe sobrevive, o [...], e a que com mais justeza se chamou o "sidonismo".

Assim, proponho-me inquirir de qual seja a substância dessa atitude mental na política, e de quais as suas causas.

Proponho-me analisar como é que tal atitude engloba tão reais emoções, tão grandes sinceridades e dedicações; e como é que? paralelamente a situação [...] encobriu tão notável chusma de traidores, de ladrões e de (...) de toda a espécie.

Que, desde já, alguns me negarão o público, tal qual o fez (?), sei-o bem; mas, para nenhuns desses escrevo. Não escrevo para os sectários que só vêm [...] Nem me importam (?) os alienados que só vêem no Sidonismo um suporte de [...] e de banqueteadores. (...) Tentar apenas [...], evitando quanto possível a paixão (...)

[...]

Não me limitarei, porém, a narrar, procurarei explicar. Explicarei, sim, mais do que narrarei. É até mais fácil explicar do que narrar, e mais útil. Narrar é enganar-se, porque narrar repousa (?) sobre factos; e, [...], não há factos, mas apenas impressões. Certos argumentos são bem feitos: é isso que é verdade.

Não há factos, há só interpretação de factos. Quem narra factos, só pode ter a certeza de que corre o risco de errar nos casos, no que narrou, e na maneira de o narrar. Quem só interpreta, dispensa um dos riscos. Certos argumentos são bem feitos, porque os factos são apenas os argumentos.

[...]

s.d.

Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.

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