1. A base de toda a especulação é a distinção entre Sujeito e Objecto.
1. A base de toda a especulação é a distinção entre Sujeito e Objecto. (À relação entre eles chama-se Conhecimento). (Na emoção e na vontade não há S[ujeito] e O[bjecto] mas só dois objectos).
2. S[ujeito] e O[bjecto] são irredutíveis. Nada que é Objecto pode ser Sujeito, nada que é Sujeito pode ser Objecto.
3. Duas coisas ficam: a Consciência e a Realidade. Estes são irredutíveis.
4. A Consciência não é a Realidade. Portanto, a C[onsciência] não existe. Não podemos afirmar que ela existe, porque afirmar que ela existe é afirmar que ela é Objecto, e ela é, essencialmente, o Sujeito Puro.
5. A Realidade divide-se em: Abstracta e Concreta e Imediata. Concreta a que é sentida como Objecto; Imediata ou Reflexa , a que é sentida como Sujeito; Abstracta a que é sentida como nem uma nem outra coisa. (Objectiva, Subjectiva, Abstracta).
6. Na experiência comum estas formas do conhecimento estão em interfusão constante; e o erro nasce da atribuição a uma, das características de uma das duas outras.
7. Características da Realidade Abstracta: (1) o indefinido, que se torna o infinito quando abusivamente tido por concreto; (2) o todo, porque cada ideia abstracta abrange um todo dos conjuntos concretos; (3) a perfeição, porque muito falta no que nada é.
O Sujeito fictício é o Sujeito que se sente Objecto , que pode ser Objecto de si mesmo e não Sujeito Puro. Esta é a primeira ficção.
(1) Toma o Sujeito por Objecto (Toma o Objecto por Sujeito?)
(2) Toma o Abstracto por Concreto — Idealismo (?)
(3) Toma o Concreto por Abstracto — Materialismo.
(4) Toma o Relativo por Concreto — (Supõe que são coisas as relações entre as coisas).
(5) Toma o Concreto por Relativo.
(6) Toma o Relativo por Abstracto — Heráclito e seguintes.
(7) Toma o Abstracto por Relativo — (Ser-Natureza).
O abstracto é só abstracto; o concreto é só concreto; o relativo é só relativo. Mas é outra coisa.
Só considerado como ideia é que o um não é um, infinito, etc.
Pensar o Mundo é um erro, porque o
Mundo não é abstracto .
A Realidade divide-se em (1) Concreta,
(2) Abstracta, (3) Relativa.
Como a noção do abstracto, do concreto
e do relativo coexistem na consciência, é natural que se confundam: daí o erro.
O erro vulgar, o que é? Exemplo: a alucinação que é o dar valor de concreto a um fenómeno abstracto .
Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968.
- 194.