Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

1. A base de toda a especulação é a distinção entre Sujeito e Objecto.

1. A base de toda a especulação é a distinção entre Sujeito e Objecto. (À relação entre eles chama-se Conhecimento). (Na emoção e na vontade não há S[ujeito] e O[bjecto] mas só dois objectos).

2. S[ujeito] e O[bjecto] são irredutíveis. Nada que é Objecto pode ser Sujeito, nada que é Sujeito pode ser Objecto.

3. Duas coisas ficam: a Consciência e a Realidade. Estes são irredutíveis.

4. A Consciência não é a Realidade. Portanto, a C[onsciência] não existe. Não podemos afirmar que ela existe, porque afirmar que ela existe é afirmar que ela é Objecto, e ela é, essencialmente, o Sujeito Puro.

5. A Realidade divide-se em: Abstracta e Concreta e Imediata. Concreta a que é sentida como Objecto; Imediata ou Reflexa , a que é sentida como Sujeito; Abstracta a que é sentida como nem uma nem outra coisa. (Objectiva, Subjectiva, Abstracta).

6. Na experiência comum estas formas do conhecimento estão em interfusão constante; e o erro nasce da atribuição a uma, das características de uma das duas outras.

7. Características da Realidade Abstracta: (1) o indefinido, que se torna o infinito quando abusivamente tido por concreto; (2) o todo, porque cada ideia abstracta abrange um todo dos conjuntos concretos; (3) a perfeição, porque muito falta no que nada é.

O Sujeito fictício é o Sujeito que se sente Objecto , que pode ser Objecto de si mesmo e não Sujeito Puro. Esta é a primeira ficção.

(1) Toma o Sujeito por Objecto (Toma o Objecto por Sujeito?)

(2) Toma o Abstracto por Concreto — Idealismo (?)

(3) Toma o Concreto por Abstracto — Materialismo.

(4) Toma o Relativo por Concreto — (Supõe que são coisas as relações entre as coisas).

(5) Toma o Concreto por Relativo.

(6) Toma o Relativo por Abstracto — Heráclito e seguintes.

(7) Toma o Abstracto por Relativo — (Ser-Natureza).

O abstracto é só abstracto; o concreto é só concreto; o relativo é só relativo. Mas é outra coisa.

Só considerado como ideia é que o um não é um, infinito, etc.

Pensar o Mundo é um erro, porque o

Mundo não é abstracto .

A Realidade divide-se em (1) Concreta,

(2) Abstracta, (3) Relativa.

Como a noção do abstracto, do concreto

e do relativo coexistem na consciência, é natural que se confundam: daí o erro.

O erro vulgar, o que é? Exemplo: a alucinação que é o dar valor de concreto a um fenómeno abstracto .

s.d.

Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968.

 - 194.