Mas o leitor escusa de se impingir a maçada de ler as obras afonsinas...
Oligarquia das Bestas
Mas o leitor escusa de se impingir a maçada de ler as obras afonsinas para perceber que o chefe das hostes oligárquicas nem tem talento, nem cultura, nem simples erudição. Que não tem talento mostra-o a absoluta ausência de ideias gerais, abstractas, propria[mente] ideias que os seus discursos mostram; que não tem cultura indica-o a sua absoluta nudez de (...), a absoluta [...] (...); que nem tem erudição exibe-o a escassez de ostentação e citações com que os [...], ainda que sem talento nem cultura, se salvam da nulidade intelectual nitidamente ostensiva. — Um discurso de A. C. é exactamente um discurso de J. Franco.
O talento de A. C. é pequeníssimo, a cultura nenhuma, a erudição parca e não assimilada [...] Em talento e cultura A. O. e J. F. são iguais; em convicção, a pouca que A. C. tem [...] é mais que a nula do Ditador monárquico.
A pouca erudição que tem A. C. faz-lhe mal: fá-lo perder a força toda. J. F. era mais perfeito porque mais de todo entregue à perfeição do tipo psicológico a que tanto ele como o D[itador] Rep[ublicano] pertencem.
A diferença entre A. C. . e F. não está na superioridade de talento, mas na superioridade de equilíbrio. C[osta] é mais [?] equilibrado que Franco. [...] De resto, é, como mais equilibrado, menos forte.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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