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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

O horror sórdido do que, a sós consigo,

Estou tonto,

Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,

Ou de ambas as coisas.

O que sei é que estou tonto

E não sei bem se me devo levantar da cadeira

Ou como me levantaria dela.

Fiquemos nisto: estou tonto.

Afinal

Que vida fiz eu da vida?

Nada.

Tudo interstícios,

Tudo aproximações,

Tudo função do irregular e do absurdo,

Tudo nada...

É por isso que estou tonto...

Agora

Todas as manhãs me levanto

Tonto...

Sim, verdadeiramente tonto...

Sem saber em mim o meu nome,

Sem saber onde estou,

Sem saber o que fui,

Sem saber nada.

Mas se isto é assim é assim.

Deixo-me estar na cadeira.

Estou tonto.

Bem, estou tonto.

Fico sentado

E tonto,

Sim, tonto,

Tonto...

Tonto...

12-9-1935

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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