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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Vai pela estrada que na colina

Vai pela estrada que na colina

É um risco branco na encosta verde —

Risco que em arco sobe e declina

E, sem que iguale, se à vista perde —

A cavalgada, formigas, cores,

De gente grande que aqui passou.

Eram dois sexos multicolores

E riram muitos por onde estou.

Por certo alegres assim prosseguem.

Quem porém sabe se o não sou mais —

Eu, só de vê-los e como seguem;

Eu, só de achá-los todos iguais?

Eles para eles são um do outro;

Pra mim são todos — a cavalgada —,

Numa alegria, distante e neutro,

Que a nenhum deles pode ser dada.

Os sentimentos não têm medida,

Nem, de uns para outros, comparação.

Vai já na curva que é a descida

A cavalgada meu coração.

15-12-1932

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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