[Carta a Armando Côrtes-Rodrigues - 19 Fev. 1915]
Lisboa, 19 de Fevereiro de 1915.
Meu querido Amigo:
Naturalmente receberei daqui a dias, enfim, carta sua. É com urgência que lhe escrevo esta; mal tenho tempo para lhe escrever esta mala, mas há a urgência que consta do seguinte, para o que peço a sua, não melhor, mas óptima, atenção.
Vai entrar imediatamente no prelo a nossa revista, «Orpheu», de que é director em Portugal um poeta, Luís de Montalvor, amigo íntimo do Sá-Carneiro, e meu amigo também, e no Brasil um dos mais interessantes e nossos dos poetas brasileiros de hoje, Ronald de Carvalho.
Vai entrar amanhã mesmo no prelo. Deve ter perto de 80 páginas, e é trimestral. Se você mandar colaboração para chegar aqui no vapor do princípio do mês que vem era óptimo. Não nos falte . Seria para nós um grande desgosto que a revista aparecesse sem v. colaborar.
Naturalmente teremos ocasião de publicar umas 6 páginas suas, a página contendo ou 2 sonetos ou 6 quadras — isto para v. fazer ideia do tamanho. Mande quanto original v. possa, excedendo bastante o necessário; v. não se importará naturalmente que eu aqui escolha de entre essas poesias as mais adaptadas ao nosso fim?
Não se importa, com certeza. Por isso não falte .
Olhe que a revista vai amanhã entrar na tipografia, começar a compor-se. V. tem tempo, mas não perca vapor. Mande quanto possa pelo primeiro. Mande o mais interseccionista que tiver — não as Odes Proféticas por exemplo. Mande coisas género Outro (não tenho aqui cópia) e coisas análogas. NÃO NOS FALTE.
Meus cumprimentos a seu Pai. Um grande abraço do todo e sempre seu
Fernando Pessoa
P.S. - Se puder registe a carta, para não se perder. Meu endereço (lembra-se?):
Fernando Pessoa
Na casa A. Xavier Pinto e C.a
Campo das Cebolas, 43
Lisboa
A casa comercial onde estou mudou de firma agora. Mas não fazia mal pôr o nome antigo.
Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues.
(Introdução de Joel Serrão.)Lisboa: Confluência, 1944 (3.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1985).
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