No género desiquilibrados políticos, temos Bruno e António Claro.
Oligarquia das Bestas
No género desequilibrados políticos, temos Bruno António Claro. Este último tem feito mais mal no Norte que todos os conspiradores que lá estão. Os conspiradores trabalham às escuras. Este é em pleno dia que conspira.
O modo de conspirar dele é inconsciente: é um errar a compreensão da situação política.
Veja-se o tom de variadas crónicas ( O Porto , 19/9/11 — Em Penacova).
É Homem Cristo exactamente. O mesmo tom (...), mesmo modo de falar pessoal e cheio de eu, o mesmo amor a inimigos da República, o mesmo [...] republicano junto a adulação e (...) de tudo quanto é reaccionário. O mesmo manter o mal-estar (...)
O mal que a lei de separação possa ter feito no norte é mínimo comparado ao que têm feito os seus críticos — este especialmente.
Verdadeiro rep[ublicano]? Rep. de sempre? Ora, ora. E o que é que dizia o antes [?] conspirador Homem Cristo?
Em lugar de incutir no espírito popular a ideia que a Rep[ública] é superior à lei de separação; de (...), António Claro escolhe o que é mau na Rep[ública], toma-o como típico da Repª e assim o apresenta ao povo de Braga, ao do Porto, ao de Viana do Castelo, ao de Guimarães — ao Norte reaccionário.
Tudo isto indica um certo desequilíbrio mental. Ora os doidos internam-se, ou, pelo menos, calam-se.
(...)
Fala da lei do divórcio, desintegra a família (...) — e fala como se a lei fosse de divórcio obrigatório.
(...)
Digo que é um traidor. Paiva Couceiro também tem antecedentes pessoais [?] da alta nobreza [...] — mas mostra sempre o laivo da loucura. É um louco cercado de malandros, dirigido por lunáticos [?]. É o que A. Claro está sendo (explorado e aproveitado por toda a malandragem reaccionária do Norte).
Nada de simpatias estúpidas pela Igreja. Uma coisa é a fé católica do povo, outra a Igreja. Uma não nos faz mal, a outra odeia-nos e combate-nos; uma é um elemento social, uma força social normal e, por isso, aproveitável, outra uma força degenerativa (...)
Nada de choramingas reles sobre o padre-cura da nossa meninice, figura postiça [?] que geralmente faz chorar quem nunca na meninice teve que gramar [?] padres-curas.
Uma coisa é o misticismo português, (que nem sequer é propriamente católico) outra coisa a vasta horda de bandidos que cofrearam [?] Paiva Couceiro, e lhe aproveitaram a loucura, fazendo a ruína moral e social de um homem cujas qualidades não mereciam que o fizessem vítima.
Nobres prelados? O pederastão da Voz? Tanto bandido, tanto pulha (...)?
Pregadores da castidade que não são castos, da suavidade que [...] sangue (...) patriotas que mijam no nome da pátria, (...)
Cantem-lhes os hinos que quiserem, que, seja qual for a letra, a música é o Hino da Carta.
É porque isto não esqueceu que Af. Costa tem ainda tanto partidário.
E os austeros rep[ublicanos] suspirantes e lacrimejantes, tipo António Claro, que se removam para a merda [?] e vão intrujar outros que estejam para lhes aturar o [...]
O perigo da Rep[ública] é estar entalada entre Af.s Costas e os Antónios Claros.
A. Claro não viu que o anticlericalismo deste princípio da rep[ública] é um desforço e uma defesa. Desforço — e desforço bem suave e (...) — contra quem tudo fez, todas as infâmias, todas as calúnias, todos os ódios (...) contra ela [...]
Partidário, por de todo liberal, da manutenção das ordens religiosas, aplaudo o decreto que as expulsou. E aplaudo-o porque foi uma defesa necessária e um desforço preciso.
Escrever, nas horas angustiosas da repª, os artigos que escrevem Bruno e António Claro, representa uma perversão dos sentimentos políticos e sociais [...] Continuar no mesmo tom agora (A. Claro, não Bruno), para que isto não acalme, nem (...), fomentar discórdias, espicaçar ódios (...) — é a tal ponto (...)
O Porto parece um manifesto de conspiradores.
Quando a Repª se sacudir dos A. Costas, dos Basílios Teles, quando conseguir que os Brunos contem só extra-politicamente (...)
Merecedora de elogios é a atitude do Sr. Cunha e Castro. Esse discordou mas absteve-se de falar. Mil vezes mais lúcido (não digo mais inteligente) que todos os Brunos e Antónios Claros (...)
António Claro e os outros como ele têm outra táctica — não é criticar, é alarmar. Não atacam Af. Costa, que aliás está fora do poder, mas falam como se ele estivesse chefe de ministério e a caminho de perder isto tudo.
O Porto deve ter já uma grande trupe; não há agora o Povo de Aveiro.
"As hostes" de [...]:
(l) Os reaccionários.
(2) Os radicais.
(3) Os agitadores (os alarmistas)
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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