[Carta a Armando Côrtes-Rodrigues - 19 Abr. 1915]
Lisboa, 19 de Abril de 1915.
Meu querido Amigo:
Com a minha vida, indisciplinadora de almas, no escritório, acrescida da minha vida jornalística de agora (sou redactor duma nova folha que aqui há, O Jornal — caí nesta vala temporariamente), mal tenho tempo para as minhas simples coisas da vida intelectual, de modo que por pouco me não escapou o dia de lhe escrever. Lembrou-me hoje de repente, e felizmente lembrou-me a tempo, visto que são 19. E não tenho tempo para tratar de reunir alguns, pelo menos, dos artigos que se têm escrito sobre o Orpheu; tenho pena de que o não possa fazer, porque v. havia de rir imenso com eles. Para a outra mala — definitivamente lho prometo — não me esquecerei. Tantos e tais foram os artigos, que em três semanas o Orpheu se esgotou — totalmente , completamente se esgotou .
Para a outra mala fica, igualmente, o escrever-lhe uma longa carta sobre o assunto.
São 12¼ da noite — isto é, como dizia o Dr. Assis, «já é amanhã». Paro aqui, portanto.
Meus cumprimentos a seu Pai; um grande abraço para si do
muito seu
Fernando Pessoa
(Saudades do Sá-Carneiro
e do Alfredo Guisado.)
Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues.
(Introdução de Joel Serrão.)Lisboa: Confluência, 1944 (3.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1985).
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