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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

PRIMEIRA VOZ: Que forma velada

                PRIMEIRA VOZ:

        Que forma velada

        Que oculto esplendor

        De longe me agrada?

        Nem forma, nem cor...

        Só o vago palor

        De chama azulada

        Quem diz que não seja

        A forma o que tem,

        O que só se deseja

        E nunca se obtém...

        A sombra do bem

        Que em sonhos se almeja?

        Oh, paira distante,

        Sê sempre ilusão

        Teu vulto levante

        Minha dor do chão

        E o meu coração

        Não mais desencante!

        Oh paira distante

        E incerto, flutuante,

        Ondeia fragrante

        Teu vulto, visão,

        O meu coração

        Não mais desencante!

                SEGUNDA [voz]:

Quem fez pairar por sobre a vida

A aura alada, névoa incerta

Que dá a dor esperança e à vida

A brisa, a (...) e a aberta?

        Nunca eu te conheça,

        Incerteza, afago...

        Silêncio, começa

        Onde eu me embriago.

        Nunca eu te adivinhe

        Anseio, visão,

        Sonho que acarinhe

        O meu coração.

        Mar alto, não deixes

        O barco voltar...

        Meus olhos não feches

        Deixa-me sonhar

6-10-1916

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

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