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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

É um campo verde e vasto,

É um campo verde e vasto,

        Sozinho sem saber,

De vagos gados pasto,

        Sem águas a correr.

Só campo, só sossego,

        Só solidão calada.

Olho-o, e nada nego

        E não afirmo nada.

Aqui em mim me exalço

        No meu fiel torpor.

O bem é pouco e falso,

        O mal é erro e dor.

Agir é não ter casa,

        Pensar é nada ter.

        Aqui nem luzes [?] ou asa

        Nem razão para a haver.

E um vago sono desce

        Só por não ter razão,

E o mundo alheio esquece

        À vista e ao coração.

Torpor que alastra e excede

        O campo e o gado e os ver.

A alma nada pede

        E o corpo nada quer.

Feliz sabor de nada.

        Inscíência do mundo,

Aqui sem porto ou estrada,

        Nem horizonte ao fundo.

24-1-1933

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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