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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Deixei de ser aquele que esperava,

Deixei de ser aquele que esperava,

Isto é, deixei de ser quem nunca fui...

Entre onda e onda a onda não se cava,

E tudo, em ser conjunto, dura e flui.

A seta treme, pois que, na ampla aljava,

O presente ao futuro cria e inclui.

Se os mares erguem sua fúria brava

É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.

Por isso meu ser mudo se converte

Na própria semelhança, austero e triste.

Nada me explica. Nada me pertence.

E sobre tudo a lua alheia verte

A luz que tudo dissipa e nada vence.

10-2-1933

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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